segunda-feira, 3 de maio de 2010

O estabelecimento de comunidades virtuais

O autor Oldenburg, em sua obra “The great good places”, afirma que as comunidades tradicionais, baseadas na localização geográfica, estariam desaparecendo da vida moderna devido à ausência de lugares onde as pessoas pudessem se encontrar e ter um momento de lazer, denominados por ele “third places”. Para este autor, existiriam três lugares essenciais na nossa vida cotidiana: o lar, o trabalho e os “terceiros lugares”, locais em que se estabeleceriam os laços sociais fomentadores de comunidades, como bares, praças e cafés, espaços em que as pessoas se encontram para conversar sobre assuntos triviais.

Assim, a agitação da vida moderna e a intensificação de problemas sociais como violência provocam mudanças de hábitos nas pessoas, que passam a evitar sair às ruas, diminuindo o contato social físico. Esse estilo de vida proporciona o surgimento de comunidades virtuais, quando se torna possível conhecer pessoas diferentes e interessantes estando conectado à rede de alcance mundial ou World Wide Web (Web) de casa ou do ambiente de trabalho.

Há, ainda, um outro fator implicando na redução do contato social de base comunitária física tradicional e na conseqüente diminuição da relação social estabelecida no bairro, que é reflexo da sociabilidade atual. A sociabilidade está se transformando através daquilo que alguns chamam de privatização da sociabilidade, que é a sociabilidade entre pessoas que constroem laços eletivos, que não são os que trabalham ou vivem em um mesmo lugar, que coincidem fisicamente. E esta formação de redes pessoais é o que a Internet permite desenvolver mais fortemente.

Como conseqüência dessa situação, ganha impulso a constituição de comunidades virtuais, cuja principal peculiaridade é o fato de surgir de forma espontânea, quando se estabelecem agrupamentos sociais com base em afinidades. O indivíduo não é obrigado a integrar determinada comunidade. Na comunidade virtual, o indivíduo escolhe, elege qual comunidade quer fazer parte, sendo a principal motivação o seu interesse particular em um ou mais assuntos em que percebe uma identificação e encontra pessoas com quem possa compartilhar idéias e promover discussões públicas, uma vez que a interação mútua, relação recíproca que ocorre entre as pessoas mediadas pelo computador, é fundamental para o estabelecimento e consolidação de comunidades virtuais.

Assim, estamos diante de novas formas de associações, imersos numa complexidade chamada rede social, com muitas dimensões, e que mobiliza o fluxo de recursos entre inúmeros indivíduos distribuídos segundo padrões variáveis. Não prestar atenção ao novo contexto de redes sociais e comunidades no ambiente virtual pode significar perda de vantagem competitiva perante outras organizações e não usufruir da oportunidade de um novo canal de relacionamento.

Manter uma comunidade, entre outras vantagens, pode permitir à organização o estabelecimento de estratégias de marketing altamente segmentadas, a obtenção de dados sobre clientes e sua utilização para obter valor comercial e promover mais valor aos mesmos clientes, fazendo-os participar na concepção e produção dos seus produtos e serviços, por meio das sugestões/informações coletadas. Participar de comunidades pode possibilitar avaliar e monitorar, sob outros aspectos, a concorrência.

Um aspecto muito importante, diante de toda a revolução digital que estamos vivenciando, é que os profissionais de comunicação corporativa adquiriram uma nova tarefa, a de monitorar o ambiente virtual no que tange a marca da empresa. As comunidades e redes virtuais, caracterizadas pela despolarização do emissor, deram vozes aos mais diferentes públicos. Públicos fundamentais deixaram de ser passíveis diante das práticas organizacionais.

Nesse universo todos têm o poder de emitir sua opinião sobre qualquer assunto e estas são visíveis na Web, podendo gerar tanto reações positivas quanto negativas. As ações de comunicação precisam contemplar o monitoramento na ambiência digital, que vem a ser uma forma de controlar a reputação da organização na rede mundial, uma vez que as mídias sociais permitem a manifestação de públicos tanto satisfeitos quanto insatisfeitos.

É preciso fazer um monitoramento contínuo na rede mundial de computadores para acompanhar o que os públicos estão articulando, por meio dos mais diversos suportes e ferramentas e como suas falas poderão atingir a imagem e a reputação das organizações. A comunicação corporativa precisa considerar novos conceitos a respeito do meio social na contemporaneidade. A percepção da sociedade como uma população que habita um determinado território geográfico e que se articula em torno de deveres e direitos é uma visão limitada para compreender o mundo globalizado em que vivemos.

Nessa acepção de mudança de paradigma, podemos acrescentar as comunidades virtuais que trouxeram um novo fundamento para o que conhecíamos como comunidade. No ambiente complexo no qual instalam-se as ações corporativas, a área de comunicação necessita levar em consideração as relações que ocorrem na esfera digital.

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